Faz amanha 15 dias que tenho a chave do meu apartamento. É um estúdio que, é algo bastante usual aqui por estas bandas. Uma única divisão que engloba sala, cozinha e quarto, mais uma casa-de-banho. No caso do meu, tenho 2 quartos separados da restante casa, por paredes de contra-placado, devidamente pintadinhas de... Verde. Pois é, o estúdio é todo verde, tal como a Joana gosta, mas, foi um (feliz) acaso. Foi arrendado já mobilado e fiquei no mesmo prédio dos meus tios, no centro de Antwerpen. O facto mais insólito, é que, a janela do meu quarto dá exactamente para as ruas das putas. E tenho um placard cor-de-rosa entre as duas janelas em que se pode ler "Girls" e "Peep Show". Vizinhança...
"Peep Show" - Janela do quarto pequeno.
"Girls" - Janela do meu quarto.
Entrada da casa, com a tartaruga Obikwelu ali à esquerda...
A sala/casa-de-jantar/cozinha.
Mais do mesmo.
A parte da sala.
O balcãozito da cozinha.
A cagadeira.
O meu (nosso) quarto. Perdoem-me a cama por fazer mas, também não é para vocês lá meterem os presuntos...
O quarto pequeno, dos arrumos, de vestir, whatever.
Et voilá. Está apresentada a casinha verde. Pequenina mas cheira bem (obrigado amor lol).
Cresci num ambiente, onde mesmo numa cidade grande, podíamos pedir um raminho de salsa ou comprar filhoses à vizinha. Agora, vivo junto ao redlight district de Antwerpen. E o que é que se dá no redlight district? Nada, é tudo vendido, alugado, emprestado, como quiserem. Se quero ir ao banco ou ao supermercado, tenho de passar por dezenas de prostitutas enfiadas em montras a exporem os seus dotes, e acreditem que há para todos os gostos. Gordas, magras, brancas, negras, mulatas, asiáticas, altas, baixas, mulheres, travestis, transexuais, tudo, como na farmácia. Aliás, mais que na farmácia. O pior (ou melhor, depende do ponto de vista) é que elas (e eles) chama-nos, batem na vitrina, piscam o olho, fazem pequenos gestos de sedução, no sentido de conseguirem angariar fregueses transeuntes. De início, tudo isto me parecia estranho. Sentia-me enojado se um travesti me chamasse e parava a olhar se desse de caras com alguma beleza rara mas, agora (de há uns tempos para cá), deixaram de ser as prostitutas das vitrinas, e conseguiram o estatuto de vizinhança. Ser bombardeado todos os dias com o mercado do sexo, torna-nos indiferentes, e acreditem que não é tanga.
Infelizmente, não posso fazer uma reportagem in loco porque nunca entrei em nenhuma montra e nem sequer tem a ver apenas com fidelidade porque, quando cá cheguei em Outubro do ano passado não tinha ninguém. Simplesmente, nunca me deu para aí. Talvez por princípios que prezo, mas sem os tentar impingir. Conheço imensa gente que recorre a estes serviços e, não é por isso que os vejo como pessoas menos integras. São escolhas, necessidades, formas de gastar dinheiro.
Agora, para tentar perceber um pouco da maneira de pensar de quem me lê, gostaria de saber a vossa resposta em relação às seguintes questões:
- Prostituição legal e regulamentada, sim ou não?
- Recorrer a "sexo pago" é reprovável?
- Uma redlight street é sinónimo de mentes abertas ou de incentivo á vulgarização do sexo?
Se eu me passeasse numa bicicleta pasteleira de senhora, branca e ferrugenta em Setúbal, era:
1. Gozado à força toda.
2. Apedrejado até à morte.
3. Atirado ao Sado com uma fateixa atada ao pé.
Aqui, sou só mais um homem montado num cangalho.
Esta é a cara de quem se levantou às 5:45 da manhã, andou a carregar tubos de inox às costas e chegou a casa às 19:00:
Conclusão: O trabalho contribui para a chamada "cara de parvo".
Intenção: Pronto, era só para vos mostrar que continuo com o ar rude de campónio.
Era madrugada, fria, escura. Ele, amante da noite, alimentava-se da maresia. Assim que escurecia, corria para a praia e lá vivia, lá pensava, lá madrugava, na madrugada, banhada por uma ondulação fria, som de água na areia, escuridão, luar, estrelas que se atropelam por um lugar no céu. Oh madrugada fria e escura que o fazes suspirar agora que vive de dia. Não troca um raiar de sol ao meio-dia nem o chilrear dum melro pelo tal espectro de sombra, vida na penumbra, fria e escura mas com cheiro e sabor a mar...
Ora bem, a esta hora estão 21 graus em Setúbal, céu limpo. Imagino que o dia tenha sido solarengo.
De manhã, em Bruxelas, trabalhei de tshirt. Depois de almoço o céu ficou cinzento. Ao fim da tarde, tempestade. Chuva, frio, vento. À medida que me dirigia a Antuérpia as coisas pioraram e assim continuam...
Além de ter apanhado temperaturas muito baixas por estas bandas (por ex: 14 negativos), não achei o inverno insuportável. O segredo está no aquecimento das casas e estabelecimentos. Mas a principal diferença entre invernos, é que o português já acabou há uns tempos e o nosso dura, e dura, e dura...
Será que um homem torna-se menos homem se fizer limpeza à pele, solário, sauna, arranjar as mãos e depilação assim tudo num curto espaço de tempo? Não. Nem se torna homossexual tão pouco, como é lógico. Mas que é uma forma apaneleirada de gastar o tempo, lá isso é. As mulheres não entendem isto, já sei. Gastam muito tempo das suas vidas a tratarem de si próprias para parecerem bonitas perante os outros, então acham que os outros têm o dever de fazer o mesmo. Tanta letra para quê? Para dizer que alinho nessas merdas todas mas não pode ser de repente. Por exemplo: intervalar solário e sauna com uma sandes de torresmos e uma escarra na calçada. Mãos e depilação tudo bem, mas pelo meio beber três litros de vinho tinto a acompanhar uma azeitona. Essas coisas.
PS: Não fui, não sou, nem serei obrigado por ninguém a fazer estas paneleirices que acabei de referir. Nem com chantagens, nem ameaças. Rapaziada máscula de Setúbal, não culpem a tripeira. Ela até curte o meu aspecto monkey man com barba por fazer also known as "drogado do caralho".
Depois de um longo e árduo brainstorming familiar acerca do nome do futuro cão da minha tia, chegámos a um consenso. O paneleiro do Yorkshire Terrier vai chamar-se Jimmy Bob! Em homenagem ao Hendrix e ao Marley, respectivamente. Para encurtar, chamar-lhe-emos Jim e assim também prestamos tributo ao Morrison. Há que destacar que o nome Foda-se esteve em cima da mesa...