Back to the 90's


Estava eu a ler o último post do blog da minha mais-que-tudo (sobre os anos 90), quando reparei que a visão que temos dessa década é naturalmente diferente no que diz respeito a factos marcantes, a músicas e ao próprio ambiente em que nos inseríamos. Então, influenciado por esse post, decidi fazer a minha descrição nostálgica dos 90's.

Nasci em 86, ou seja, quando tinha 4 anos (que é mais ou menos a idade em que se começa a criar um arquivo mental para mais tarde consultar) estávamos a entrar na Era do "everything it's happening".
O meu pai tinha um Volkswagen Beetle cuja porta tinha de segurar com a mão esquerda, enquanto conduzia e mudava velocidades com a direita. Depois mudámos para um Fiat 127 que quanto a mim é um dos automóveis com o focinho mais bem disposto de sempre. Nesses carros (mais no segundo), a banda sonora estava a meu encargo, e então o que eu fazia era, acordar aos Domingos de manhã, preparar uma k7 áudio para poder (re)gravá-la, ligar a aparelhagem à tv, e assim que começava o Top + ficava completamente atento à espera que aparecesse um videoclip para poder pressionar REC. Enchia k7's assim, com as músicas do top internacional. Por vezes na gravação ainda se ouvia o apresentador a anunciar a música mas, não era relevante. Sentia que estava a enganar toda uma indústria musical, e talvez tenha sido o primeiro tipo de pirataria que terei experimentado. Lembro-me dos Backstreet Boys, dos Hanson, dos Kelly Family, dos Boyzone e de tudo o resto, mas porque a minha prima comprava as revistas Bravo e SuperPop, e consequentemente enchia o quarto de posters enormes, mas a partir dos meus 10/11 anos, quando comecei a criar a minha própria cultura musical, adorava Nirvana. Isto porque foi o primeiro CD que o meu pai comprou, e eu ouvi-o até à exaustão, de forma que, com essa idade já conseguia cantar que a Polly queria crack entre tantas outras coisas. Também por essa altura, o meu melhor amigo que era 3 anos mais velho, mostrou-me Iron Maiden e eu adorei. Nas fotografias do meu 12º aniversário, envergo uma poderosa t-shirt preta com um Eddy (mascote dos Iron Maiden) a ser mutilado. Isto quando a maior parte dos meus amigos da escola achavam que Offspring era hardcore.
Foi também nos 90's que eu e o meu primo tínhamos um objectivo de vida comum: perceber que raio a irmã dele escrevia naquele livrinho em branco a que chamava diário. Éramos sempre tramados por um cadeado. No Carnaval perseguíamos prostitutas para lhes atirar balões de água, até ao dia em que o chulo veio atrás de nós. Tínhamos medo de passar na velha, que era uma casa abandonada onde supostamente vivia uma bruxa que nos tentava fazer mal. Nunca a vi. Pela altura do Santo António, todos os miúdos do bairro iam fazer peditórios para a festa. Havia uma zona para cada dois, e a frase era sempre: "Uma esmolinha para o Santo António...". Com o dinheiro que juntávamos, comprávamos sumos, caracóis, frangos assados, tortas Dan Cake, etc, e decorávamos um dos pátios lá do bairro que com a tal música das K7's se transformava na nossa discoteca.
Lembro-me que no tempo das férias, todos os miúdos ficavam na rua até à meia-noite sem haver medo de raptos ou de Bibis. Éramos muitos e sentíamo-nos seguros. E os toxicodependentes da zona eram nossos conhecidos.
Lembro-me de organizarmos uma equipa de futebol chamada Monte Belo City, cujos jogos eram feitos contra a equipa da Camarinha e contra a outra equipa do nosso bairro, as Estrelas do Monte Belo. Eram duelos à séria que por vezes davam lugar a pancadaria, mas ninguém tinha medo.
Lembro-me dos pagers que a coca-cola oferecia. E lembro-me de ter comprado um ainda melhor, da Telecel. A moda dos tamagochis foi demasiado estúpida. A minha diversão era fazer reset aos bichinhos das meninas. Os capri-sonnes que bebia às carradas. Levantar-me às 6 da manhã para ir a pé até aos ferry-boats com os meus avós e depois, chegar a Tróia cheio de vontade de me atirar para dentro de água. Ficávamos lá o dia inteiro. Nessa altura os raios ultra-violeta não existiam, porque não lhes ligávamos nenhuma.
Lembro-me de ir a festas de aniversário ao MacDonalds do Jumbo, para depois vermos um filme no cinema e gastar 500 escudos nas máquinas de jogos. Na altura em que o Bicho do Iran Costa fazia toda a gente dançar, e que quem não conhecesse a coreografia da Macarena era completamente Out.
Tive um diablo, muitos iô-iôs e no bairro da minha avó, jogávamos ao pião. Em casa jogava ao Super-Mário na Nintendo e sentia-me orgulhoso por ter um jogo com o meu nome. Fazia guerras com tropinhas de plástico e Action Man's, tinha pistolas e punhais de plástico e nem por isso me tornei psicopata.
Telemóveis não haviam, e por isso quando os meus pais me queriam em casa, iam à janela e gritavam o meu nome. À primeira nunca ia. O grau de intensidade com que o soletravam subia à medida que o tempo passava. Nunca os fiz esperar muito, mas tinha amigos que quando ouviam o seu nome completo em gritos já sabiam que iam levar uma chapada.
Descobri que se metesse azeite em papel e deixasse secar, a folha transformava-se em papel vegetal. A partir daí passei a tirar desenhos dos almanaques de banda desenhada. Depois disso aprimorei a minha arte, e passava noites a desenhar e a pintar.
Lembro-me de ser obrigado a dormir a sesta para poder ver o festival da canção à noite, quando o programa ainda era pretexto para uma reunião de família. O zapping na altura fazia-se entre dois canais. A Rua Sésamo, o Bocas, Denver, Tom Sawyer, eram os meus preferidos. Depois passou a novela Pantanal e viciei-me naquilo. Ainda me lembro dos nomes das personagens e adorava quando a Juma se transformava em onça.
Lembro-me de ir pedir copos de água ao café da Zita depois de passar horas a jogar futebol na rua. E lembro-me que ir a casa era mais perto.
Nunca mais me esqueço de ter visto o Vitória de Setúbal dar 5-2 ao Benfica num ano em que desceu de divisão. As almofadas da bola, o cachecol e o chapéu, além do equipamento que tinha com o patrocínio da Ariston.
Lembro-me de muita coisa, e podia continuar a escrever o dia inteiro, talvez guarde para outra ocasião...
publicado por Mário às 11:57 | link | partilhar