I'm a jamaican in New York

Faz hoje um ano que desembarquei em Bruxelas. A esta hora, já tinha mais de uma hora de voo e estava muito nervoso. Era a primeira vez que voava sozinho, ainda para mais sabia que tão cedo não poderia voltar a Portugal.
Deixei grande parte da família (porque o resto vive por estas bandas), os amigos, a minha cidade, tudo ficou para trás. Durante dois meses, trabalhei em Eindhoven (Holanda) durante a semana e passei alguns fins-de-semana em Antwerpen (Bélgica), entre a casa do meu pai e a da minha tia. Para alguns, a minha viagem foi um acto de cobardia e bla bla bla mas gostava de os ver passar por algumas situações que passei, e por momentos de solidão que só quem está sozinho fora do país compreende. Hoje tenho tudo muito mais facilitado. Mudei-me para Antwerpen, tenho uma relação feliz com a pessoa mais maravilhosa deste mundo, trabalho com o meu pai, tio e primo, a minha tia mora por cima, e entretanto trouxe a minha mãe e o meu irmão para cá. Hoje sinto-me me casa. Faltam algumas pessoas mas, eu já vivia antes delas entrarem na minha vida. E sinceramente não me arrependo de nada. Lutei para ter aquilo que me faz sentir feliz e não tenho qualquer tipo de vergonha em sublinhar que trabalho numa ETAR, e que muitas vezes preciso usar galochas de borracha para proteger os pés de lamas biológicas a que eu, carinhosamente chamo merda. Mas essas galochas já possibilitaram não deixar faltar nada à minha mãe no primeiro mês que cá esteve (que conseguiu trabalho em regime efectivo - graças à Joana e à sua família - e que no dia 1 de Novembro vai morar para a sua própria casinha), nem tão pouco ao meu irmão que se está a integrar muitíssimo bem numa escola belga onde aprende diariamente o holandês.
Confesso que me acho subvalorizado no meu trabalho e que consigo bem melhor mas, também sei que não abracei a carreira de alma e coração e que esta é apenas uma fase de transição até que me sinta realizado. De qualquer forma, para mim, a realização profissional é secundária. Já trabalho há alguns anos em coisas que não gosto e a única vez que me fui abaixo foi quando fiquei desempregado. Tenho espírito de sacrifício. Há quem não o tenha.
Feita a nota comemorativa do primeiro ano fora de Portugal, e do breve resumo do que isto tem sido, peço que fiquem atentos aos próximos posts. Ainda não decidi qual a regularidade com que actualizarei esta coisa, depois aperceber-se-ão...
publicado por Mário às 13:18 | link | partilhar