Não temos televisão portuguesa. Não que seja caro ou de difícil instalação mas apenas porque não somos exactamente fãs dos canais nacionais e os internacionais também existem por cá. Contudo, quando vou a casa de familiares, e se for hora disso (até porque sou um newsfreak) paro para ver os noticiários. Ontem, enquanto a RTP transmitia o Portugal em Directo reparei que por baixo do logotipo da estação de televisão, em vez da palavra "directo", podia ler-se "direto". Sem o C antes do T, portanto. E no nome do programa, mais abaixo, a mesma coisa. Passo a ilustrar:
Na altura, pareceu-me um brasileirismo daqueles que vieram a reboque com o novo Acordo Ortográfico e, dei por mim a repetir mentalmente a palavra numa de tentar perceber se há ou não a vocalização do C suprimido. De facto, no meu caso o C é mudo mas, em termos de beleza linguística "direto" é bem mais feio que "directo", e ao fim de algumas repetições dá-se aquele fenómeno da palavra deixar de fazer sentido, coisa que com "directo" não me acontece porque a origem etimológica é de fácil identificação e as derivações diversas. Há pouco, pesquisei a palavra no dicionário Priberam e foi sem surpresas que li que sim, "direto" é fruto de um Acordo Ortográfico mas (e agora é a parte que me surpreendeu) do de 1990. Portanto, fui ensinado a escrever arcaísmos e passados mais de 20 anos ainda não me habituei à nova forma. Temo que o meu filho olhe para mim com a mesma cara com que eu olharia para alguém que escrevesse Pharmácia. Sinto-me velho.
Nota: Pelos vistos, o corrector ortográfico do meu browser também é um velho ancião, porque continua a considerar "directo" a forma correcta.