O dia em que salvei o país
Foi há uns anos, numa visita de estudo à Assembleia da República que, eu e um amigo salvámos a plateia de deputados de um atentado terrorista.
Quando chegámos ao edifício, aquilo estava em obras. Boa, bestial, fantástico. A fachada cheia de andaimes e nós, pequenos seres idealizadores totalmente desconsolados.
À entrada, somos submetidos ao Piiiii do detector de metais, a revistas criteriosas e inclusive, tivemos de deixar as mochilas com os lanchinhos em cacifos.
Assistimos da varanda a uma sessão matinal, com muitas cadeiras vazias, muitos Solitários Spiders nos portáteis, muitos bocejos e um Louçã a tentar defender o indefensável.
Nisto, numa súbita vontade de libertar coisas feias, convido o Salgas a acompanhar-me ao Cagatório da República. Sim, eu sou pessoa para cagar em qualquer lado. Aliás, sempre que vou a um grande centro comercial gosto de enviar o meu fax e, se o WC tiver música clássica ambiente melhor. Torna todo o acto num momento épico, uma viagem metafísica de um cagalhão , quiçá. Para além disso, na altura, tínhamos uma espécie de pacto: o de defecar em conjunto. Lembro-me que, noutra situação na Pousada da Juventude do Porto chegámos a ser 4 a fazê-lo ao mesmo tempo. Aí ganhou o Pedro Cristóvão. O plockkk " não engana.
Voltando ao WC da Assembleia, fizemos o que tínhamos a fazer, lavámos as mãos como todos os meninos de bem, contemplámos os belos acabamentos da divisão e, fez-se luz!
"O que será que está guardado atrás das portas do armário do lavatório?" pensou um de nós (não me lembro quem)...
Abrimos o belo do armário e, tal não é o espanto quando nos deparamos com UMA FACA!
Daquelas de cozinha, talvez utilizada pela senhora da limpeza para raspar qualquer coisa ou... Talvez escondida ali para uma posterior degolação, quem sabe, da doutora Odete Santos.
Era a nossa grande oportunidade de mostrarmos serviço em prol da pátria.
As gerações dos nossos pais foram ao "Ultramar", alguns mais antigos estiveram nas Legiões Francesas, e nós nada? Queríamos uma medalha de mérito e um diploma na parede. "A faca" podia dar-nos tudo isso e muito mais (por "muito mais" entenda-se miúdas promíscuas).
Pegámos no pequeno e mortífero objecto cortante, enchemos os peitos de ar e fomos ao encontro de um polícia que patrulhava o corredor:
- Senhor guarda!!! Olhe o que nós achámos na casa-de-banho :
- Uma faca!
- Das que cortam!
Ao que o senhor guarda respondeu com desdém:
- Ah, ok. Dá cá.
A seguir veio a desilusão. Imaginámos outra coisa.
Uma subida ao palanque, talvez. Um discurso perante a nossa turma na varanda, com o Pedro Cristóvão a pensar: "Mas... eles não tinham ido cagar ?". Algo assim. E claro, as medalhas, o diploma e as miúdas promíscuas. Nada disso aconteceu. Restou-nos a glória pessoal, a de que por um dia, fomos heróis.
(E agora reparem no elo de ligação com o feriado de ontem) Também, há 34 anos um punhado de capitães teve a sua quota parte de heroísmo. A diferença é que, não sentaram as nalgas numa sanita do parlamento.