Constatação do Óbvio/Acidente de Trabalho

Anteontem, por volta das 23:30, enquanto manobrava (com 3 colegas) um motor eléctrico de uma bomba de lastro de um petroleiro "estacionado" na doca seca nº22, um dos estropos (cabos de aço) deslocou-se e entalou-me o pé e a mão esquerda contra um varandim. O pé consegui tirá-lo a tempo, mas a mão, ficou presa pelo dedo indicador. 

Calmamente, e até porque não senti grande coisa, disse aos meus colegas que já tinha f***** o dedo. Saí do navio, e dirigi-me até ao escritório do chefe. Nessa caminhada que ainda são bem à vontade uns 10 minutos, comecei a sentir dores horríveis, e o dedo, estava negro e imóvel. Falei com o tal chefe, para o avisar que teria de ir ao posto médico, e que ia abandonar o local de trabalho. Ele fez o relatório do sinistro, e depois foi lá ter comigo. 
Quando cheguei ao posto de assistência médica, estava tudo apagado, em silêncio. Com as dores insuportáveis que tinha, tive de esperar que o enfermeiro acordasse, e que se disponibilizasse a abrir-me a porta. Quando finalmente me observou, disse-me que teria de arranjar transporte para ir ao hospital, pois eles não tinham aparelhos para tirar um raio-x.
Quando cheguei ao hospital, estive mais de duas horas para ser atendido, e tudo para quê? Para depois, uma médica que mal sabia falar português, me dizer que realmente tinha o dedo f*****, não nestas palavras, mas noutras mais imperceptíveis.
Ontem, tive de me dirigir ao Pinhal Novo, aos escritórios da seguradora, para descrever em vários papéis o que me tinha acontecido à mão. Papelada, mais papelada, telefonemas, faxes para o hospital, faxes para o estaleiro, e-mails e conversa fiada depois, lá me dizem para me deslocar a uma clínica privada, que por acaso até fica a poucos metros da minha casa (vá lá...).
Na tal clínica dizem-me:
"Você não pode trabalhar com o dedo assim..."

É impressão minha, ou eu ontem vivi o maior exemplo do cúmulo da constatação do óbvio adaptado à realidade burocrática da nossa sociedade?
O dedo? O dedo continua f*****...

publicado por Mário às 19:25 | link | comentar | partilhar