Pirataria Musical
A internet veio modificar de forma abrupta a vida das pessoas de diversos sectores da sociedade, mas, os que mais se ressentiram, foram os artistas.
Vejamos o caso do meio musical, que no início deste milénio, viu toda a sua estrutura ser abalada, muito por culpa de um tal Shawn Fanning, criador do primeiro programa de partilha livre de ficheiros de som em formato mp3, o Napster. Em 2001, foram instaurados diversos processos judiciais pela Recording Industry Association of America, acusando Shawn, e o seu software, de promover a troca ilegal de material protegido por copyright. Em Março desse ano, a empresa recém-criada fechou as portas, mas a pirataria não.
Este novo fenómeno trouxe a público algo que foi negligenciado durante anos a fio.
O artista ganha em média 5% de cada álbum vendido, sendo o resto, lucro absoluto das editoras. Para fazer face à conjuntura ditatorial deste meio, diversos músicos aderiram à distribuição livre do seu trabalho como forma de divulgação, distanciando-se do monopólio das Big Labels. O primeiro caso deste género foi protagonizado pelo rapper norte-americano Chuck D., quando em 1998 (ainda antes do Napster), decidiu difundir títulos seus gratuitamente na Net. Na altura rescindiu o contrato com a sua editora, e aderiu à novíssima Atomic Pop Label, totalmente dedicada à difusão artística através da Web.
Em Junho de 2002, David Bowie afirma em entrevista ao The New York Times que, "o copyright como tal terá desaparecido dentro de 10 anos", e que o único meio para se obter algum lucro será através de grandes digressões internacionais. Três anos mais tarde, um economista de Princeton teorizou a sua ideia, numa tese intitulada Rockonomics [pdf].
Em Portugal temos o caso dos The Gift, que fartos de não tomarem o leme da sua própria carreira, criaram a La Folie, um nome sonante que não passa de uma edição de autor.
Quando falamos em músicos, não nos podemos esquecer dos menos mediáticos, muitas vezes populares nas suas regiões de origem, mas que, sem a partilha gratuita do seu trabalho, não teriam público nos concertos. Na maioria das vezes, até são vendidos álbuns de fabrico caseiro, por preço reduzido, no fim de cada espectáculo. No Brasil, o caso mais sonante é o da Banda Calypso, que chega a levar mais de 120 mil pessoas às suas actuações. Por cá, são diversas as bandas de garagem que o fazem.
No que toca à interacção entre o músico e o seu público, a internet também teve um papel fundamental, mais propriamente o MySpace. As pessoas hoje em dia já não se limitam a ouvir o seu ídolo na aparelhagem ou no leitor de mp3. Querem chegar a casa e saber o que ele anda a fazer, o que planeia fazer, e se possível, em tempo quase real. Os Artic Monkeys, que lideraram as tabelas britânicas durante umas semanas, chegaram ao estrelato dessa forma. Ganharam fama nesse serviço de social networking, e só mais tarde foram convidados para lançarem o seu álbum de estreia.
Entretanto houve uma invasão de blogs e bloggers, e os artistas do meio, foram quase que obrigados a acompanhar a tendência. David Fonseca, foi bem mais longe, e pegou na sua inesgotável criatividade, para realizar e produzir o seu mais recente videoclip (do tema Superstars).
As editoras deixaram de ser algo imprescindível, estando ao alcance do músico a tecnologia necessária para promover as suas criações, de forma tão, ou mais apelativa.
O aparecimento do Itunes Store e do Zune, veio provar que afinal, alguns dos temidos "piratas" também pagam pelo que ouvem.
Segundo uma sondagem da Courrier Internacional, em 2002, 7% da população europeia tinha acesso à internet através de uma ligação de banda larga, e desses internautas, 18% descarregavam ilegalmente música protegida. Em 2006, o número de utilizadores de banda larga subiu para 40%, e os descarregamentos desceram para 14%.
Em 2003, Tony Smith do The Register publicou que a Disney, a Dreamworks e aWarner Music, consultavam regularmente diversos sistemas de p2p (eMule, Kazaa, etc) com o objectivo de apurar quem eram os artistas mais populares por número de downloads. Nenhuma das 3 empresas negou tal coisa, aliás, até admitiram usar o mesmo bot (software automatico), o BigChampagne.
Não me lembro de um alarido tão grande, quando os gravadores de k7's invadiram o mercado, e nessa altura, até um leigo em tecnologia poderia gravar músicas da rádio, de outras k7's, dos antigos vinis, e posteriormente dos primeiros cds.
A grande luta, neste momento, trava-se contra as possibilidades que a internet abriu à gerência pessoal de carreiras, à independência artística, e à liberdade editorial.
Fontes:
The Register
Courrier Internacional - Nº121 (Edição Impressa)
VH1